terça-feira, agosto 28, 2007

Paulo Brandão


"Não sou um jogador tão caro como gostaria"

É um dos programadores mais cobiçados. E, ao mesmo tempo, um dos mais temidos – os equipamentos que programa parecem sempre condenados ao sucesso. Paulo Brandão, 40 anos, director artístico do Theatro Circo, em Braga, responde por mail à entrevista, numa pausa da mudança de casa.
[Entrevista de Helena Teixeira da Silva publicada a 28 de Agosto de 2007 na série farpas no Jornal de Notícias]

Confima o slogan: "É bom viver em Braga"?
Muito bom. Como no Silvas; a Jo-Jo's tem todos os discos de que preciso; a Centésima Página é visita obrigatória todas as semanas; o Circo dá-me a adrenalina; no Latino faço o balanço. Durmo em Famalicão.

Já se converteu ao lado mais católico da cidade?
Não sou fácil de converter a coisa alguma. Em Braga, a minha religião é a do Theatro Circo.
A sua transferência da Casa das Artes em Famalicão para o Theatro Circo (TC) em Braga foi como subir da liga de honra à primeira divisão?
Não gosto de analogias com o mundo do futebol, mas respondo com uma: na vida, vejo-me mais como massagista de uma equipa feminina (a divisão não importa). O que importa são os resultados.

O Paulo é um jogador caro?
Não tão caro como gostaria.

Tem sido recorrente a comparação da sua programação com a da Casa da Música (CM). É o seu próximo campeonato?
A Casa da Música tem um excelente programador. Não é o meu "próximo campeonato". Mas qual o programador que não gostaria de a programar?

Há competição entre os dois equipamentos?
Não há competição. Mas os espectadores é que devem decidir.

Ambos decidiram ter países convidados: Espanha, no caso da CM; França e Alemanha, no caso do TC. Há coincidências?
Há coincidências, certamente.

Ao colocar Famalicão e Braga no mapa está também a colocar lá o seu próprio nome?
Os mapas também são feitos de pessoas. Aliar o meu nome a Famalicão e a Braga é uma honra.

O facto de antes, como agora, estar sempre tudo centralizado em si é uma exigência sua?
É uma forma de trabalhar. Embora passe os dias a descentralizar pelos meus colaboradores.

O que achou da petição "Contra o compadrio cultural de Braga", que ainda está a circular na Internet?
Desconheço a petição. Não gosto de compadrios pela negativa.

Encara a política da cidade como território de padrinhos?
A cultura precisa de "padrinhos". Muitos. Aproveito para lhe indicar que o Theatro Circo anda à procura de Mecenas.

Ainda não está há um ano no TC e já houve quem pedisse a sua demissão. Como reage?
Ponho na balança. A minha demissão, porquê!?

O financiamento de políticas culturais é mais fácil de obter em autarquias laterais, isto é, fora do eixo Porto-Lisboa?
As autarquias não têm dinheiro. O Ministério da Cultura não tem dinheiro. O país não tem dinheiro. A solução é fazermo-nos cada vez melhores.

"Não será por falta de verba que esta casa não fará espectáculos", disse Mesquita Machado. É um privilegiado?
A situação de privilégio não é minha, é de Braga e de todos os que frequentam o Theatro Circo.

Ainda é espectador do Teatro Nacional S. João, onde trabalhou oito anos?
Sempre que posso. Ricardo Pais é um esteta que muito admiro.

Se um produtor privado quisesse gerir o TC, como reagiria?
Não sei se tal será possível. O dinheiro não pode ser tudo.

Braga ajudou a encurtar a distância de Lisboa?
Braga, Bragança, Famalicão, Guimarães e Vila Real são exemplos que têm vindo a encurtar culturalmente a distância. Lisboa, em relação a nós, é que está cada vez mais longe.

Assistiria mais depressa a uma corrida de carros ou a um concerto de John Zorn?
Compreendo a sua pergunta e confesso que não nutro grande admiração pelo senhor Rui Rio. Assistiria com agrado a um concerto de Zorn, por exemplo, no Rivoli. Mas também não me faria mossa assistir a uma corrida de automóveis em frente ao Theatro Circo.

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