quinta-feira, setembro 13, 2007

Bárbara Pinto de Oliveira

"Los Angeles é a meca do meu trabalho"

Não fosse um problema nas cordas vocais, e ela, mestre em ópera, teria assinado contrato com uma companhia na Alemanha. Bárbara Oliveira Pinto, 25 anos, está a estudar cinema e televisão em Los Angeles. É no intervalo de um musical em Hollywood Bowl que responde à entrevista. A sobriedade do discurso torna irreconhecível a jornalista do Porto que não consegue não fazer da televisão um espectáculo.
[Entrevista de Helena Teixeira da Silva publicada a 9 de Agosto de 2007 na série Farpas do Jornal de Notícias]
Está a viver em Los Angeles (LA) e decorou o telemóvel como os dos americanos. Em Roma sê romano?
É muito isso. Sempre que vou a algum sítio tento sempre integrar-me. Quando vim para LA, dei umas voltas e comecei a aperceber-me daquilo que estava a ser mais usado, como é que as pessoas andam, como se vestem e a verdade é que vi que muita gente põe diamantes em tudo o que usa. É o chamado bling bling. Como acredito que se tira mais partido das coisas quando se é romano em Roma, aderi e pus uns diamantes swarovsky no telemóvel. Custou 60 dólares.
É a rendição total ao kitch americano?
Não é total; é parcial. Existem muitas outras coisas que vão contra às nossas ideias mais sólidas e que estão na nossa personalidade. E que estão lá sempre, independentemente do sítio para onde se vá: são os alicerces. Mas depois há outras coisas que nos ajudam a sermos camaleões para nos sentirmos integrados, mais optimistas e mais felizes.
Sente-se completamente em casa?
Por acaso, sinto. Não sabia que ia sentir-me integrada tão rapidamente. A verdade é que senti. Estava um bocadinho assustada antes de vir, porque não sabia com o que ia contar. Mas há idades em que devem dar-se saltos sem pensar muito. Ou seja, ter os pés no chão, mas ter também um bocadinho de loucura. Aconteceu, fiquei contente por fazê-lo e até agora está a correr muito bem. Estou muito feliz. Se calhar é o bling bling.
Está a tentar o seu american dream?
Da primeira vez que vim a LA, a impressão não foi a melhor. Quando vim da segunda, já comecei a gostar mais e foi muito interessante, foi um amor que se foi cimentando. Vim cá muitas vezes trabalhar, antes de vir para cá viver. Acho que as coisas realmente boas são aquelas que vamos apreciando devagarinho. Costumo dizer que de bife com batatas fritas gostamos todos; de caviar é preciso aprender a gostar. O mesmo acontece com a música, com os livros... Aqui também foi um bocadinho assim. LA é a Meca do meu trabalho. Por isso, pensei: "porque não dar-me esta oportunidade? Vamos tentar. Era um mundo diferente, um desafio e eu gosto deles". Então disse: "Vou tentar". E vim. As pessoas vêm para cá à procura de um sonho e não se limitam a pensar nele - tentam-no. Nesse sentido, LA é uma cidade muito romântica, apesar de não ser fisicamente bonita.
Viver em LA é como viver num plateau de cinema?
Completamente. Aliás, quando se passeia aqui pelas ruas é muito normal verem-se muitas cenas de filmes a serem gravadas. Aqui, toda a gente está ligada à indústria do entretenimento de alguma forma. Vive-se um mundo de magia. E as pessoas são muito optimistas. Tive uma conversa muito engraçada com um jornalista francês que está cá a viver. Ele disse: "Vim para cá e achava estranho tanto optimismo à nossa volta, via alguns projectos e perguntava como é possível acreditarem naquilo". Mas a verdade é que as pessoas uniam as mãos e acreditavam tanto que aquilo tinha sucesso.
Está contaminada pelo optimismo?
Para já, estou. Mas também só estou aqui há cinco meses. Não sei se é a euforia inicial ou se é para permanecer.
É crítica em relação a esta máquina americana de fazer de conta?
É bom sonhar. Às vezes, a vida já é tão dura no dia-a-dia. Há um exercício que faço todos os dias: antes de adormecer começo a sonhar. Gosto sempre de sonhar acordada antes de adormecer e esta cidade tem-me dado a limento para isso. É importante porque é o nosso motor. Precisamos de água e vegetais para estarmos bem fisicamente e preciamos de sonho para estarmos bem psicologimente.
Tropeça em muita gente conhecida?
Várias vezes. É normal. Eles moram cá. É normal encontrá-los na praia de Malibu, na lojas de Beverly Hills, nos cafés, em Melrose. Já vi os irmãos Owen e Luke Wilson a almoçar em Santa Mónica, a Hillary Swank, no Grove...
Pede autógrafos?
Nunca. Eles não gostam e eu também não sou dessas coisas.
Em Portugal, há muita gente a vir estudar para os EUA, a maior parte para tentar a sorte da representação. É por aí que quer ir?
Vim para cá com o objectivo de aperfeiçoar a técnica televisiva. Era o meu objectivo principal. Mas agora, que estou aqui, tenho que aproveitar o que esta cidade tem de melhor. Estou a fazer, por carolice, além do curso de televisão e cinema, um curso de representação, que está a ser uma aventura muito grande. É quase uma viagem por dentro de nós. Quase um curso de psicanálise. Diria que até é mais psicanálise do que drama e teatro. É fantástico. Tinha estado ligada às artes do espectáculo antes de entrar na televisão e de certa forma foi um reviver disso tudo. Foi uma via para perceber melhor o mundo do showbizz em Hollywood, que é uma energia muito engraçada. É quase um submundo. Não tinha noção das coisas que realmente as pessoas têm que fazer para tentar o sonho americado. Não é fácil, são muitas etapas.
Entrevista quase todos os actores. Sente-se uma espécie de Mário Augusto em versão feminina?
Somos grandes amigos. Admiro-o muito, ensinou-me muito e guiou-me muito. Agradeço-lhe imenso, mas acho que temos estilos comppletamente diferentes.
O seu estilo é bastante histriónico. Tem necessidade de transformar tudo em espectáculo?
A televisão está dividida em dias áreas: informação e entretenimento. Sempre trabalhei em entretenimento e, nessa área, acho que a televisão deve ser um show. É assim que a assumo. Já fiz outras coisas que exigiram de mim uma postura mais séria e aí volto a ser camaleão.
Sente que faz parte de uma nova geração de jornalistas ou de entertainers?
[Silêncio]. De uma nova geração de jornalistas, porque a maneira de comunicar está a mudar. Se virmos agora um filme dos anos 50, vamos achá-lo muito parado. Em Hollywood é tudo tão rápido, tão visual, que as coisas têm que evoluir. A televisão, os telejornais, os próprios jornais, está tudo diferente- Logo, as pessoas que trabalham em comunicação também têm que assumir uma postura diferente.
Há um blogue que diz que é altiva em televisão. Revê-se na crítica?
Nunca tive essa atitude perante ninguém, nem numa me senti assim na vida. Pelo contrário. As viagens que tenho feito e os anos que tenho vivido fora de Portugal (Londres e Paris), percebi que a pior coisa que podemos fazer é sentirmo-nos superiores em relação a alguém. Precisamos de todos, independentemente daquilo que cada um faz. E estamos todos interligados de uma maneira tão profunda que, às vezes, é impressionante e choca.
Trabalha sobretudo com o lado mais glamoroso da vida, mas também fez a Volta a Portugal. Onde se sente peixe dentro de água?
Em tudo na vida tem que haver equilíbrio. O que eu admiro mais são as pessoas que conseguem comer com 20 talheres de cada lado e no dia a seguir comer com as mãos. Porque não ter esta abertura de espírito? Vivo muito os dois lados. Mesmo na minha vida pessoal, gosto de cultivar as duas vertentes. Adoro o requinte, a elegância o glamour, mas também não me incomoda nada estar num sítio mais popular, onde as pessas estão mais à vontade.
Na apresentação dos Prémios Laureus do Desporto conseguiu embaraçar Boris Becker, lembra-se?
Pedi-lhe o telemóvel em directo e ele não estava a contar. Ainda hesitou, mas depois lá se safou [risos].
Já sabe o que vai fazer quando regressar a Portugal?
Não. Antes era muito ansiosa. Em LA aprendi a viver aqui e agora. O caminho para a felicidade não é atingir as nossas metas; é sentir que estamos no caminho certo para as atingir.

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